20051128

A Democracia Encurralada

O sistema eleitoral português não permite, ao contrário de outros países, que um perfeito desconhecido possa apresentar-se como candidato, e ser eleito. O único acto eleitoral, em que supostamente os candidatos são independentes, isto é, a eleição para o Presidente da Républica, provou ser o mais partidarizado de todos! Não só pela origem inequívoca das candidaturas, como também pela barreira das 7.500 assinaturas, que ao cidadão independente, se apresenta como um obstáculo real e intransponível...

Quando nos apresentámos em 15 de Agosto deste ano, estávamos conscientes do grande desafio que esta candidatura representava, mas guardávamos ainda, secreta e inocente esperança, de que tal candidatura fosse possível. Hoje, volvidos que são três mezes sobre esse dia, sabemos que não conseguiremos atingir nem sequer o objectivo mais básico: apresentar uma candidatura independente. Depois da Eng.ª Maria de Lourdes Pintassilgo, que tinha consigo a vantagem de ter sido a primeira mulher Primeiro-Ministro em Portugal, nunca mais tivemos qualquer candidatura que estivesse fora do apertado regime partidário e, o que é mais importante, fora das suas regras implacáveis de sucessão, de manutenção, e de convivência saudável com o inimigo.

Perdemos assim a oportunidade de ter um candidato que não acredita na justiça portuguesa, nem na bondade dos juizes, nem na eficácia dos funcionários, nem na competência dos advogados; um candidato para quem existem crises maiores do que a financeira, perigos maiores do que os incêndios, inimigos maiores do que os óbvios; um candidato que está cansado de viver num país de prostitutas e de chulos, um país onde tudo se vende e tudo se compra, onde já nada é sagrado, e vale tudo, até tirar olhos.

De resto, está de parabéns a comunicação social, pelo silêncio de chumbo...

Hélder Cerqueira
Candidato à Presidência da República

20051122

Porque não votaremos em Francisco Louçã

Começamos aqui uma série de artigos com as razões por que não devemos votar em cada um dos candidatos e, em última análise, porque não devem ser Presidentes da República. Convido a uma reflexão atenta sobre cada um dos textos e, igualmente, a uma discussão salutar sobre os argumentos.

Francisco Louçã personifica o ódio. Tudo o que faz, diz ou pensa exprime uma amargura estéril e uma revolta depressiva. Francisco Louçã personifica o pior da esquerda. O seu olhar emane animosidade, como se quisesse exorcizar um qualquer trauma. - Não admira, portanto, que os principais alvos da sua ira sejam a família e a tradição, que a sua maior meta seja o desapego da religião e a banalização da cultura.

O Dr. Louçã domina uma matilha de lacaios que o acolitam de uma forma servilmente desprezível. As suas acções exprimem um autoritarismo absolutista só comparável, na história recente, aos piores ditadores. O resto do Bloco de Esquerda, em vez de lutar sinceramente pela energia social que tanto aclama, combate as políticas de forma oportunista, tentando subir degraus no circo da esperteza. Está na parte mais fácil da barricada e também aquela em que os portugueses são mais convenientes: a critica inconsequente, a demagogia maligna e o nojo narrativo.

É inacreditável, contudo compreensível, que tantos jovens sejam aliciados pelas malhas deste monumental disparate político. Como se trata de um bando que está alicerçado sob as raízes da demagogia e das verdades falaciosas, qualquer mente juvenil menos esclarecida pode julgar-se perante a ansiada doutrina que libertará a sociedade de todos os males. E os inocentes pensarão que eliminar a agonia social é um caminho fácil, mas cedo alcançarão que fácil é falar. Mais tarde ou mais cedo, terão que fazer uma opção verdadeiramente adulta: insistir na birra apática da infecunda apreciação negativa – ou optar corajosamente pela via activa da defesa das grandes realizações do espírito humano.

Tenho que terminar com um apontamento que nos distingue dos demais: se por acaso eu estiver errado e alguém me queira convencer que não existe o tal ignóbil desprezo pelos valores, que o afirme num diálogo construtivo e saudável.

Diogo Dantas

20051114

Um erro chamado voto nulo

O voto nulo não é um erro tão grande como a abstenção, mas contém características de grande ingenuidade e pouca eficácia. Vejamos: ao fazermos rabiscos no boletim de voto, vamos estar a juntar-nos a toda a população que tentou votar num candidato mas cujo boletim foi anulado por estar rasurado, sujo, imperceptível – ou seja, vamos estar a ser confundidos com todos os inimputáveis, pessoas com problemas de visão e gente com dificuldade em apreciar a legalidade do seu boletim de voto.
Por outro lado, qualquer mensagem colocada nesse papel irá perder-se na insignificância dos elementos da mesa de voto, eles próprios obrigados a guardar sigilo sobre estas questões. O voto em branco, pelo contrário, não oferece dúvidas. Está em branco porque não quisemos escolher nenhum dos candidatos e estamos contra a eleição.

20051103

Protesto e Fidelidade

Meu Caro Diogo Dantas:
Sou monárquico, conscientemente, pelo menos desde a juvenil idade dos dezassete anos. Como a idade para votar, no nosso País, se inicia com a maioridade, aos dezoito, posso dizer que, eleitoralmente, o meu monarquismo existe desde sempre. Nunca coloquei a questão de escolher um dos candidatos que se apresentassem à Chefia do Estado num sistema republicano, por acreditar que a opção por qualquer mal, mesmo que considerado menor, seria sempre capitulação inaceitável, donde, conivência com o mal.
Como exprimir então o meu protesto e reiterar a minha fidelidade à Casa Real Portuguesa?
Nas primeiras eleições em que pude participar optei por votar branco e não por me abster, não comparecendo no local de voto. Parecia-me que ficar em casa poderia ser entendido como pura cedência à preguiça e, assim sendo, não constituir forma de protesto suficientemente forte, face à usurpação republicana da Forma de Estado.
Em diálogo porém com um Querido Amigo, Seu conterrâneo, que, ultra-monárquico, nunca se havia dado ao trabalho de aparerecer nas mesas de voto de presidenciais, foi-me por ele aduzido um argumento que me fez arrepiar caminho: encarar a simples ida à secção de voto como passível de ser entendida qual reconhecimento de legitimidade da farsa referendária do que irreferendável é, ou deveria ser. Desde aí, não mais me desloquei ao local de votação.
Muito recentemente, um jovem monárquico da blogosfera, o Sandokan de «Curtas e Rápidas» advogou, no seu blogue, a ideia do voto nulo, através da inscrição da frase «viva o Rei» no boletim, o que teria a vantagem de firmar a posição, sem que, como na simples abstenção de optar entre os nomes do venenoso cardápio, se pudesse acreditar que a recusa da cruzinha ficasse a dever-se, unicamente, ao facto de que nenhum dos candidatos tivesse agradado.
Em última análise, a minha posição é esta: não havendo da parte de Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte qualquer indicação de preferência por uma destas três formas de demarcação, cada monárquico deve optar pela que, psicologicamente, for mais conforme ao seu carácter. Nenhum de nós tem a totalidade da Verdade no bolso e, desde que sejam salvaguardados os Grandes Princípios, qualquer concretização deles parece digna e procedente no que à fidelidade à causa concerne.
Abstenhamo-nos, pois, como melhor nos aprouver.
Creia-me admirador sincero pela disponibilidade e dedicação ao Bom Combate que demonstra.

Viva El-Rei
Paulo Cunha Porto

20051102

Um erro chamado Abstenção

Durante a vida encontramos, inúmeras vezes, uma encruzilhada com apenas dois caminhos: um certo e outro errado. Um deles é árduo, muitas vezes coberto de injúria e cansaço, mas leva aos princípios que formam e instituem uma sociedade. O outro caminho é mais fácil, traz uma alegria efémera e uma interminável superficialidade que não levam a lado nenhum, a não ser várias ramificações semelhantes de um só sentido. Chegou a hora de escolhermos a via pela qual queremos vir a ser lembrados.

É um erro crucial não ir votar por pensar que a abstenção é uma forma de protesto. Para o sistema democrático, actuar dessa forma é dizer claramente que somos indiferentes à eleição. – E a última coisa que Portugal precisa neste momento é de gente débil e inerte! O voto em branco, pelo contrário, é uma afirmação inequívoca de não querermos nenhum dos candidatos e de protesto perante o actual sistema.
Votar no candidato “menos mau” é igualmente pactuar com a habitual desonestidade oportunista dos candidatos e engrandecer a mediocridade das suas propostas populares.

Diogo Dantas
Nota: A ideia deste blog é conceber um espaço alargado de discussão e uma troca salutar de pontos de vista. Não serão permitidos comentários ofensivos, difamatórios ou que colidam contra os ideais que fizeram este espaço.